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Quinta-feira, 22 de Maio de 2025
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MPF debate espionagem em universidades de Mossoró durante a ditadura militar

Audiência pública discute a atuação do SNI na Uern e Ufersa e reforça medidas para resgate da memória e defesa da democracia

Neilla Souza
Por Neilla Souza
MPF debate espionagem em universidades de Mossoró durante a ditadura militar
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Professores, alunos e cidadãos em geral lotaram o auditório da Faculdade de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), em Mossoró, na noite desta quarta-feira (2), para participar de uma audiência promovida pelo Ministério Público Federal (MPF). O evento abordou a espionagem realizada em universidades da cidade durante o período da ditadura militar, destacando os impactos do Serviço Nacional de Informações (SNI) na Uern e na Escola Superior de Agricultura de Mossoró (Esam), atual Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa).

O procurador regional dos Direitos do Cidadão no Rio Grande do Norte, Emanuel Ferreira, destacou que a iniciativa integra uma ação coordenada do MPF em prol da democracia. Ele ressaltou que mais de 50 ações penais já foram ajuizadas contra pessoas que cometeram graves violações aos direitos humanos no período ditatorial. Além disso, alertou sobre a necessidade de continuar vigilante diante das ameaças à democracia.

Durante a audiência, Ferreira anunciou que o MPF atuará na criação de comitês da verdade, memória e justiça dentro da Uern e da Ufersa. Outra medida discutida foi a retirada de homenagens a violadores dos direitos humanos em espaços públicos, citando como exemplo o bairro Costa e Silva, em Mossoró, nomeado em referência ao segundo presidente do regime militar.

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O debate também trouxe relatos de professores que foram monitorados pelo regime, como João Batista Xavier e Paulo Linhares. Xavier revelou que, só recentemente, tomou conhecimento de que suas atividades acadêmicas eram vigiadas pelo SNI. Linhares, por sua vez, relembrou que chegou a ter sua disciplina retirada da universidade por pressões políticas, mas foi reconvocado graças à mobilização dos alunos.

O reitor da Ufersa, Rodrigo Codes, enfatizou que a repressão não se limitou aos grandes centros urbanos, mas também atingiu Mossoró. Ele alertou que os resquícios da ditadura permanecem, citando o mecanismo da lista tríplice para escolha de reitores, que permite ao presidente da República nomear até mesmo o terceiro colocado na eleição interna das universidades.

Jana Sá, presidente do Comitê Estadual da Verdade, Memória e Justiça, reforçou a necessidade de retirar homenagens a figuras ligadas à repressão e ampliar o acesso a documentos do período ditatorial. "A luta pela memória e verdade não é sobre o passado, é sobre o presente e o futuro do Brasil", afirmou.

A deputada federal Natália Bonavides também participou do evento e ressaltou que ataques à democracia devem ser combatidos coletivamente. Ela mencionou o pioneirismo do Rio Grande do Norte em iniciativas educacionais na década de 1960, como o programa "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" e a experiência de alfabetização "40 horas de Angicos", ambos extintos após o golpe militar de 1964.

O SNI foi um órgão criado pelo regime militar em 1964 para monitorar e reprimir opositores. Sua atuação se estendeu a diversas instituições de ensino superior, incluindo as universidades de Mossoró. A audiência promovida pelo MPF servirá como ponto de partida para novas medidas que visam resgatar a verdade histórica e reforçar a defesa da democracia no país.

FONTE/CRÉDITOS: TCM
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